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domingo, 6 de novembro de 2011

DE QUANDO ME TORNEI PROFESSORA

Houve um tempo que pensava que havia me tornado professora após a colação de grau do curso de Formação de Professores. Lembro-me daquele mês de janeiro. Eu ainda menor ha época tinha receio de não conseguir emprego, até porque meu sonho de normalista só se encontrava no serviço público e não no privado. Da alegria, veio a preocupação: o que fazer agora, em termos profissionais? De lá até os dias atuais, passei pelo setor privado, consegui aprovações em concursos, mas não posso deixar de mencionar uma situação que me faz recordar quando realmente me senti professora, quando percebi ter-me tornado professora. No ano de 2000, participei de um concurso de  remoção e mudei de escola, indo lecionar numa escola de zona agrícola, mas que para o IBGE, não chega a ser zona rural. Crianças simples, famílias que tinham na terra a base do sustento. Ainda mantinha, em sua maioria, a formação numerosa de filhos na família. Naquele momento, meu desafio tinha nome: Valdecir, um menino com distorção idade/série, visão subnormal, na 2ª série –  3º ano escolar nos dias atuais – que não havia aprendido a ler. Valdecir foi o menino que me desafiou na busca de estratégias para favorecer seu aprendizado. Valdecir na sua timidez de “menino grande”, no meio de crianças menores. Lupa, material específico em escrita maior, motivação no desenvolvimento da oralidade, avaliação diferenciada e uma grande parceira: Vânia Pires, dirigente das boas, compromissada e comprometida, hoje ausente do nosso meio, devido às fatalidades, às quais não estamos isentos.
E Valdecir aprendeu a ler. Depois dele, fui professora de outros irmãos daquela família numerosa: Ananias, carinhoso e cheio de dificuldades cognitivas, que foi meu aluno após três anos na 1ª SN 2 –  2º ano escolar nos dias atuais – conseguiu aprovação. Até hoje guardo uma cartinha que leu para mim. Sim, leu, porque até então copiava coisas sem sentido e dizia que era cartinha. A doce e comprometida Valdinéia, menina que anunciava determinação e força, em meio à doçura. Vânia, toda comunicativa e cheia das histórias. Davi, o mais novo da família, que tive como aluno e que em cinco meses na turma de alfabetização escrevia sem medo e lia como gente grande.
Após encontrar a Valdinéia numa escola Técnica Agrícola, resolvi partilhar o quanto aquela família numerosa de crianças carentes havia marcado minha vida. E o quanto foi bom receber aquele abraço cheio de gratidão e carinho ouvindo o rumo que seus irmãos tomaram de “gente de bem”, que está trabalhando, formando família. Em dezembro, um deles vai se casar e eu estou desejosa de reencontrar a família reunida de novo.